quarta-feira, 19 de março de 2014

Passenger Seat



“Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não para de mudar de direção. Tu mudas de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de ti. Voltas a mudar de direção, mas a tempestade persegue-te, seguindo no teu encalço. Isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de dança maldita com a morte ao amanhecer. Por quê? Porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada, sem nada que ver contigo. Esta tempestade és tu. Algo que está dentro de ti. Por isso, só te resta deixares-te levar, mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma ponta a outra.”

(Haruki Murakami em “Kafka à Beira-Mar”)


Nunca acreditei em destino. Continuo não acreditando. Penso que vivemos em um vasto mundo, mergulhados em acasos. Somos como aquelas sementes aladas, que esvoaçam, ao sabor dos ventos. Somos uma existência que se resume a uma sucessão de momentos que passam e vivemos aprisionados entre o tudo (o real) que ficou pra trás e o nada (a semente que não se sabe pra onde vai) vagueando pra frente. Em que resulta, então, nossas vidas?

Penso que somos como uma coleção constantemente revisada de informações sensoriais e operações mentais, em forma de “rascunhos”. Somos uma experiência consciente, um “updating”, constantemente revisando processos que se enredam em diferentes tempos, formas e lugares. Somos como um autor maluco, revisando e modificando um manuscrito, que nunca acaba. Os rascunhos representam uma vasta coleção de pequenos “teatros”, uma história que “contamos a nós mesmos” e que, com o tempo, muito apego e esforço, acabamos chamando de “eu”.

Eu sou a música que apenas eu ouço.


2 comentários:

  1. Nossa, essa música me lembrou minhas viagens!
    Acaso, destino, coincidências, essas palavras ainda continuam na ordem do dia... eu entendi o post, mas não saberia comentar... essa é a verdade!

    Abração.

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  2. Entao??!!!!!
    Fecha o manto contra a areia e quando estiver no centro da tempestade, onde tudo é parado, avalie a força restante e decida avançar.
    Seguir em frente, sempre.

    Beijos....sd.

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