segunda-feira, 30 de junho de 2014

Interessante...

... interessado, interesseiro. Ah, o poder dos sufixos! (rs)

Interesse: uma disposição (a priori) de juízo, que dirige uma ação ou atividade. E que não é a mesma coisa que motivo, ou motivação, que pode prescindir da existência do interesse, como ocorre, por exemplo, quando fazemos algo apenas para obter algum reconhecimento, independente de existir um interesse real sobre a ação. Mas, vamos ao que interessa (rs): agreguemos uma singela palavra (conceito) a essa discussão... moral!

Falemos da Moral, com “M” maiúsculo, aquela que independe de qualquer sentido religioso, ou de qualquer noção de intenção como seu elemento formativo... a moral que tem o “dever” como seu fundamento único. O comando moral primário que faz com que nossas ações sejam moralmente boas, se expressa no seguinte imperativo: “age só segundo a máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal”. Esse imperativo é uma “forma a priori pura”, independente do útil ou prejudicial, da motivação ou interesse. É uma escolha voluntária racional, por finalidade e não causalidade. Por ela superam-se os interesses e impõe-se o ser moral, o ser do dever. O dever é o princípio supremo de toda a moralidade! Dessa forma uma ação é certa quando realizada por um sentimento de dever. E a razão é a única condição a priori da vontade, portanto, independente da experiência.

Os imperativos gerais da vida humana ordenam o mundo, e são “fórmulas” para exprimir as relações entre o que queremos objetivamente, e o que a nossa subjetividade imprime à vontade. Assim, temos aqueles casos em que as ações são boas como meio para qualquer outra coisa, ou seja, em vista de algum propósito. Por exemplo, o comerciante que pratica preços justos para se sobressair diante de outros que não o fazem. Ele pratica uma ação justa, mas não essencialmente moral.

O imperativo categórico do dever não é (nem pode) ser limitado à condição alguma! Todos os outros podem ser denominados de princípios da vontade, mas não leis. “O mandamento incondicional não deixa à vontade nenhum arbítrio acerca do que ordena, só ele tendo, portanto, em si, aquela necessidade que exigimos na lei... A vontade não está, pois, simplesmente submetida à lei, mas o está de tal maneira que possa ser também considerada legisladora ela mesma, e precisamente por isso então submetida à lei”

Ora, sendo a razão o único parâmetro a guiar nossas máximas como princípio de vida, temos que os outros princípios, baseados em outros motivos constituem o que podemos chamar de “não morais”, ou “maus” (como transgressão dos limites da razão). E na maldade a avaliação que se faz dos pensamentos é, portanto, corrompida na origem.

Só mais uma palavra: solipsismo. (rs) Sabe aquela ideia de que nada existe (ou merece existir!) além de nós mesmos e de nossas experiências? E que vem a ser uma relação patológica consigo mesmo? E que se refere ao nosso sistema de inclinações (desejos, impulsos... interesses...) guiados pelo amor de si ou felicidade própria? Pois então, deveras distante de uma fundamentação moral legítima e universal...

PS: As citações entre “aspas” são de Kant (rs)

sexta-feira, 27 de junho de 2014

A Beleza Que Desespera

Às vezes, em dias de luz perfeita e exata,
Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Por que sequer atribuo eu
Beleza às coisas.
Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe
Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então por que digo eu das coisas: são belas?
Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as coisas,
Perante as coisas que simplesmente existem.

(Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos”)

Acho que foi Valéry quem disse: o belo é belo pelo que nos causa desespero. Talvez porque seja difícil tomarmos consciência de que a beleza encontra-se na simplicidade das coisas. Especialmente quando estamos na fase ascendente de nossas vidas e acreditamos que apenas as coisas grandiosas são possíveis de engendrar o belo. Depois, quando o inevitável vem (e é inexorável que venha!) e dá-se a “descoberta”, só resta o desespero por todo um tempo perdido a troco de nada.

A cena é do filme “Beleza Americana”. Bela cena...

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Josh Pearson – Lift to Experience



Hoje vamos comentar sobre mais um enigma da cena musical indie... ele é Josh Pearson, músico, cantor e compositor texano. Sua história começa em 1996, quando forma a banda “Lift to Experience”, com um som tipicamente “rock de garagem”.

Após muitas apresentações por circuitos “underground”, no final de 2000 lançam seu primeiro (e único) álbum duplo de estúdio: “The Texas-Jerusalem Crossroads”. A crítica especializada ficou fascinada com esse trabalho conceitual... denso, requintado, repleto de citações literárias e musicais! Mesmo que não tenha obtido o correspondente sucesso de público, ainda hoje é um álbum referencial na história do rock.

Então, meio que do nada (existem várias “explicações”, muitas das quais já viraram lenda) a banda se dissolve em 2001. Fato é que Pearson nunca mais, nem em sua posterior carreira solo, voltou a mencionar, ou cantar, algo da banda. Aliás, sua vida passou a ser semelhante a um “retiro” (rs), tendo ele se expressado através de um folk “espiritualizado”. Mesmo assim, a relação de Pearson com a produção em estúdio, de 2001 até hoje, é quase nula. Participação em pequenos festivais, 2 álbuns ao vivo... e o mistério continua!


Um clássico, no melhor estilo Lift To Experience: These Are The Days

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Uma amostra da “vibe” atual do Josh Pearson: Thou Art Loosed

terça-feira, 24 de junho de 2014

O Saber Natural



Adulto: Pessoa que em toda coisa que fala, fala primeiro dela mesma (Andrés Felipe Bedoya, 8 anos)

Ancião: É um homem que fica sentado o dia todo (Maryluz Arbeláez, 9 anos)

Água: Transparência que se pode tomar (Tatiana Ramírez, 7 anos)

Branco: O branco é uma cor que não pinta (Jonathan Ramírez, 11 anos)

Camponês: Um camponês não tem casa, nem dinheiro. Somente seus filhos (Luis Alberto Ortiz, 8 anos)

Céu: De onde sai o dia (Duván Arnulfo Arango, 8 anos)

Dinheiro: Coisa de interesse para os outros com a qual se faz amigos e, sem ela, se faz inimigos (Ana María Noreña, 12 anos)

Escuridão: É como o frescor da noite (Ana Cristina Henao, 8 anos)

Guerra: Gente que se mata por um pedaço de terra ou de paz (Juan Carlos Mejía, 11 anos)

Inveja: Atirar pedras nos amigos (Alejandro Tobón, 7 anos)

Igreja: Onde a pessoa vai perdoar Deus (Natalia Bueno, 7 anos)

Lua: É o que nos dá a noite (Leidy Johanna García, 8 anos)

Mãe: Mãe entende e depois vai dormir (Juan Alzate, 6 anos)

Paz: Quando a pessoa se perdoa (Juan Camilo Hurtado, 8 anos)

Sexo: É uma pessoa que se beija em cima da outra (Luisa Pates, 8 anos)

Solidão: Tristeza que dá na pessoa às vezes (Iván Darío López, 10 anos)

Tempo: Coisa que passa para lembrar (Jorge Armando, 8 anos)

Universo: Casa das estrelas (Carlos Gómez, 12 anos)

Violência: Parte ruim da paz (Sara Martínez, 7 anos)


(Do livro “Casa das Estrelas: o Universo Contado pelas Crianças”, de Javier Naranjo)




sábado, 21 de junho de 2014

O Que Vem Com a Espada



Sufjan Stevens (01/07/1975) é um cantor, compositor e músico multi-instrumentalista americano nascido em Detroit, Michigan. Na minha “listinha”, com absoluta certeza, ele está entre os “mais-mais” (rs)! Com uma grande produção musical que percorre vários estilos (desde a música eletrônica, passando pelo indie/folk, ou mesmo pela instrumentação sinfônica, característica do rock progressivo), sua marca central é a espiritualidade presente na maioria de suas músicas.

Embora ele afirme sua intenção de separar suas crenças pessoais (um misto de islã e tradições cristãs) da sua música, é inegável essa incorporação de elementos religiosos e místicos. Detalhe: Sufjan (soof-yahn) é um nome persa pré-islâmico, que significa "o que vem com a espada".

Suas letras quase sempre refletem seus sonhos e memórias, chegando, em algumas, ao surrealismo característico dos estados oníricos. A suavidade de sua voz, por vezes, contrasta com a temática mais forte de algumas canções densas. Como ele mesmo expressou em uma entrevista:

“Eu acredito que a música é baseada em ritmo e movimento, mais do que qualquer outra coisa. Em essência, é mais sobre o instinto humano, as sensações, os sentimentos... o toque, o corpo...  há uma espécie de obsessão que eu sinto como uma regressão a uma experiência primal... o meu o animal interior esperando para orar sobre as paixões do mundo.”

Penso que nem é preciso acrescentar mais nada, né! Ah, a cereja do bolo: ele é gay. Falta alguma coisa pra ser perfeito? (rs)

Discografia
2000 - A Sun Came
2001 - Enjoy your Rabbit
2003 - Greetings from Michigan
2004 - Seven Swans
2005 - Illinois
2006 - The Avalanche
2006 - Songs for Christmas (Vols. 1/5)
2009 - The BQE
2010 - All Delighted People
2010 - The Age of Adz
2012 - Silver and Gold: Songs for Christmas (Vols. 6/10)

Essa música é do seu ultimo álbum. O vídeo, um dos mais lindos que já encontrei! Depois que o vi, não consigo mais desvinculá-lo dessa canção deslumbrante!


sexta-feira, 20 de junho de 2014

Amir Dadon



Amir Dadon (16/11/1975... hum, escorpião! rs) é um cantor, compositor, músico e arranjador, atualmente de grande sucesso em Israel. Apesar de ter iniciado sua carreira em 1998, foi apenas em 2008, descoberto por Idan Raichel, que ele tornou-se conhecido.

Voz forte, letras simples e suaves, faz o estilo trovador. Sou meio suspeito, né (rs)... digamos que, apesar do cabelo com jeito de ninho de pomba bêbada, ele não deixa de ser deveras interessante! Uma sessão voz e violão, numa dessas noites frias... melhor nem pensar!


terça-feira, 17 de junho de 2014

Poesia da Vida



É uma casa. E a casa está fechada. Uma casa fechada. Trancas nas portas, chaves esquecidas em inexistentes soleiras de portas. Habitada por ninguém. Há muito tempo. Tempo morto, como a casa. Apenas ruídos na casa. Gemidos. De dentro da casa. Fechada e desabitada. Estranhos ruídos no tempo interno da casa. Nos meus tempos, que são os da casa. Tempos...

Há muito tempo, avançando na noite, aos trambolhões, bêbado, cada vez mais solitário, até o amanhecer, até outro dia, atrás de um outro dia, onde se pudesse deixar de sonhar, onde se pudesse não ser tão completamente exausto de tanto sonhar, sem que ninguém percebesse, de tão cansado, de tão esfumado no desvanecer das luzes, da vida, de tudo, do grito inaudível, do gemido sem solução. Eu...

Dores ocultas na casa, dores velhas, dores inúteis. Inúteis como gaiolas numa terra sem pássaros. Inúteis como janelas abertas que dão para o lado onde não se enxergam as paisagens. Inúteis como caminhos que levariam a Deus, onde já não existe mais fé ou sua irrestrita possibilidade. Fé...

A poesia da vida. A poesia se faz e se quebra!

(25 de janeiro de 2003... tempos difíceis!)




sábado, 14 de junho de 2014

Os Limites da Lógica

“As paixões são como as ventanias que incham as velas do navio. Algumas vezes o afundam, mas sem elas não se pode navegar.” (Voltaire)

Difícil conceituar a paixão, que não permite, enquanto sentimento, o exercício da razão. A paixão nos impele para longe dos domínios da paz e da mansidão e, por isso mesmo, viceja nos jardins da desrazão, onde não há escolhas, apenas a excitação absurda da alma.

A paixão é um sentimento do corpo, não da mente. E, em sua essência, ela impede que nossa mente conduza o corpo. Ao contrário, é ela que nos conduz, por caminhos onde os riscos não se medem pela sanidade, mas sim pelas pulsões. A paixão é uma química e corrói as entranhas e vicia e nos torna cegos, nos desencontros desesperados das intermináveis madrugadas.  

Uma vez eu vivi esse esvair de energia, essa absoluta e incólume sensação de perda de todo e qualquer controle sobre a vida e o bom senso. Quando a tempestade passou (porque um dia passa!), eu prometi a mim mesmo, que nunca mais! Nunca mais!

(Natan Goshen - que voz! - o mais passional dos meus “queridos judeus”... ah, como eu te entendo!)


sexta-feira, 13 de junho de 2014

Broken Records



Saiu o novo álbum (Weights & Pulleys) dessa fantástica banda indie/folk/rock de Edimburgo, Escócia. O uso do violino, violoncelo e acordeão, ao lado dos instrumentos tradicionais de uma banda de rock, tornam o seu som algo mais portentoso. Costumam ser comparados a Arcade Fire... sinceramente, não vejo essa semelhança! Especialmente por suas letras, muito mais profundas e consistentes.

Discografia
Until the Earth Begins to Part (2009)
Let Me Come Home (2010)
Weights & Pulleys (2014)


quarta-feira, 11 de junho de 2014

Slow Life

Daniel Stoupin, estudante de PhD da Universidade de Queensland, capturou em vídeo o comportamento de corais, esponjas e a diversidade da vida marinha na Grande Barreira de Corais na Austrália.

Estes pouco mais de 3 minutos de belíssimas imagens foram criados a partir de mais de 150.000 fotografias de alta qualidade, sendo cada uma delas registrada em arquivo tipo RAW com uma resolução de 22 megapixels. A união das imagens criou um efeito de time-lapse em uma qualidade HD.

E foram 3 meses de trabalho para cada minuto de vídeo... mas, que ficou lindo demais!


sábado, 7 de junho de 2014

Eviatar Banai



Cantor, escritor e compositor israelense, Eviatar Banai (08/02/1973) vem de uma família de artistas e escritores - irmão mais novo de Orna Banai, atriz, e de Meir Banai, um dos mais importantes compositores hebraicos, além de primo de Ehud Banai, outro grande cantor de Israel. Tendo formação em música erudita (estudou piano por 8 anos), após o serviço militar foi morar num kibbutz nas colinas de Golã. Sempre esteve em contato com os “dois lados” da questão árabe/israelense e seus conflitos. Grande parte das canções produzidas em sua juventude trata das misérias provocadas pela guerra. Aliás, sempre esteve associado às organizações progressistas de Israel.

Com o passar dos anos, sua música, inicialmente “engajada”, depois cada vez mais navegando pelos “mares experimentais”, acabou se direcionando para o lado religioso do judaísmo. Em 2004 ele se tornou um “teshuva baal “ - ao pé da letra, um “mestre do retorno”, aquele que, vivendo secularmente durante parte da vida, se volta aos preceitos judaicos, depois de um período de introspecção. Porém, suas letras nunca deixaram de abordar as dores da alma humana, com a mesma doçura que sempre o caracterizou.

Essa música (“Layla Kayom Yair” - A Noite Se Iluminará Como o Dia) é uma mistura de jazz, música hebraica e uma letra belíssima, apesar da simplicidade... “Ao longo do riacho que flui em mim, entre as árvores fica a minha casa...” lindo isso!


sexta-feira, 6 de junho de 2014

Lírico



O amor havia partido. Partido coração, partido em dois, em dez, em mil pedaços.
E ele chorava, feito criança assombrada e insone. Ele chorava.
E a vida era um negrume,
Qual negra parca da morte.

Foi daí que chegou o Joca Tripé.
Mais negro que o negrume, mais negro que a asa da graúna.
Sem delongas, despiu o pobre e o pôs de bruços.
Era manhã ainda,
Quando os trabalhos começaram.
Duas por cima,
Duas por baixo,
De lado, por entre...

Ah, ele deu! Deu muito!
Deu até parar de querer dar
E ter vontade de recomeçar.
Já bem tarde, ele ligou pro psicólogo,
Em pé, pela dificuldade de se sentar:
Suspendeu a consulta marcada!

Era noite, mas ele (sabendo sem saber)
Ainda via mil luzinhas piscando absurdamente...

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Shearwater



Ouvindo hoje essa banda indie rock de Austin, Texas. Formada em 2001 em torno de Jonathan Meiburg, músico multi-instrumentista, vocalista e compositor. Suas canções são fortemente influenciadas pela formação acadêmica de Jonathan... geógrafo, especializado em religiões e comunidades humanas primitivas. Uma sonoridade muito especial!

Discografia
The Dissolving Room - 2001
Everybody Makes Mistakes - 2002
Winged Life - 2004
Palo Santo - 2006
Rook - 2008
The Golden Archipelago - 2010
Animal Joy - 2012
Fellow Travelers - 2013