segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Ego e Sentido

Ego. Será tão difícil de entender que nossa existência consciente não se estrutura como “coisa” ou fato do mundo? Somos seres, ou melhor, “locus”, através dos quais o mundo (coisas e fatos) se revela. Somos a particular maneira como o mundo se revela. A cada um, de um jeito. Somos “dotados de mundo”, somos consciência do mundo, posto que de nós mesmos. Consciência... eis o milagre e o drama! O que nos diferencia e apavora. O que nos dá tudo e, ao mesmo tempo, a percepção de que um dia perderemos tudo, inclusive a nós mesmos. Perder... a experiência do desvelar final.

Sentido. Buscamos sempre o sentido das coisas. As causas, as razões, os porquês. Queremos, precisamos de um sentido. Mesmo que saibamos que o último e verdadeiro e real sentido é exatamente o sem sentido. Decerto há religiões, crenças, ideologias, que tentam “ser” algum sentido. Felizes os que creem! O que torna essas ilusões tão atraentes é o sabor doce das suas premissas. Eu, talvez, tenha perdido a predisposição de sentir esse doce.

Enfim... hoje vamos com mais uma “banda-lake”... que eu conheço, é a quinta, ou sexta. Lowlakes. Absurdamente linda...


domingo, 7 de dezembro de 2014

JBM



Fim de semana e lá vou eu conversar nos fóruns. E descobrir coisas boas. Ao menos isso, nessa vidinha de bosta que teimo viver. Na verdade, não sou eu quem teima... mas, isso é conversa pra outro tipo de post. Falando em descobrir coisas boas, ontem me apareceu essa: Jesse Marchant, cantor, músico e compositor canadense. Comecei minha pesquisa básica pelo seu 3º álbum, que acaba de ser lançado. E que, ao contrário dos outros (Not Even in July, de 2010 e Stray Ashes, de 2012) vem assinado com seu nome e não como JBM, nome artístico com que ele iniciou sua carreira. Hum... interessante. Primeira música do álbum: Words Underlined... e eu já estava totalmente conquistado pelo moço! (rs)

Como descrever o seu estilo, as suas canções? Jesse é, definitivamente, noturno. Uma voz aparentemente sufocada, mas com uma textura apaixonante. O instrumental tende ao discreto, embora com toques perfeccionistas... e que não deixa que se perca a pureza e ingenuidade (sim, pode existir ingenuidade, mesmo no sombrio da noite) que também são marcas da sua voz. E tem as letras... a impressão que me passou foi a de ele deixa escapar, aos poucos, pedaços do seu mundo interior. Quedas, ausências, recomeços... é, acho que vou ter que usar novamente o adjetivo deslumbrante!

Em uma recente entrevista ele foi questionado sobre o abandono do seu “apelido musical”. Ao que ele respondeu algo como querer assumir de vez a responsabilidade pelos seus desejos, a clareza dos seus sentimentos... sei não. Mas, como não sou de levantar falso testemunho (rs), vou ficar apenas no âmbito da música em si. Realmente, em comparação com os álbuns anteriores (que são muito bons, diga-se de passagem), o seu trabalho atual reflete um amadurecimento, com sonoridades mais vivas, mais enraizamento! Acho que é isso.

Óbvio que escolhi Words Underlined para ilustrar o post. É uma música contida... dor dilacerante, angustia, tristeza, tudo contido, lindamente contido. Eu sou tão assim também...


quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Ode ao Amor Morto

Era uma vez uma sexta-feira. Como tantas outras. Várias. Muitas. Deitados, nós dois, cansados da semana, cansados, suados, tarde, seu rosto no meu peito, meus dedos nos seus cabelos... por que era assim? Por que tinha que ser assim? Sempre. Amor. Sempre... porque desde o início era um caminho mais forte do que nós. E que nos obrigava, visceralmente, a caminhar apenas por ele. Mesmo que não houvesse um final de trajeto tão claro, um ponto que se pudesse vislumbrar como de chegada, mesmo assim sempre estávamos lá, caminhando.   

- Você precisa ir embora já?
- Hoje não. Ela está na casa da mãe, com as meninas. Acho que vão dormir lá.

Acendemos um cigarro. Alguns instantes de completo silêncio. Aos poucos, onde antes havia apenas o desejo, a razão começa a voltar. Quase sempre era assim. Não era um sentimento ruim, de culpa pelo que sentíamos um pelo outro. Não, não era isso. Há tempos não havia mais dúvida que nos amávamos.

- Posso te fazer uma pergunta?
- Se eu puder responder...
- Até quando vai ser assim?
- Assim como?
- Assim... a gente, nós assim, aqui, num motel. Amanhã e depois, tendo cuidado se der saudades e tiver que falar com você, na sua casa. Até quando vamos ser “amigos”?
- ... não sei.
- Nem quer pensar a respeito?
- E você acha que não penso?!
- Tá. Desculpe...
- Quando estou em casa, dormindo com ela, me sinto tão canalha!
- Sei como é. É disso que eu falo. Até quando continuaremos com isso?
- Será que estamos fazendo tudo errado?
- Errado o que? O que sentimos?
- Não o que sentimos! Errado, estar enganando, traindo...

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Tragédia. Do grego: tragos (bode) e odé (canto), tragosoiodé, literalmente “canto dos bodes”. Narrativa dramática da Grécia antiga, cuja origem, muito provavelmente, remonta aos cânticos religiosos em honra ao deus Dionísio (Baco, para os romanos). No formato clássico, a marca essencial da tragédia está em que os protagonistas centrais sabem, ou intuem, desde o começo, o final triste que encerrará o episódio.

Luta contra o destino? Cegueira da razão? Punição?

12 anos atrás. Não 12 horas, ou 12 dias. Vivíamos, existíamos, na integridade de todos os aspectos de nós mesmos. Éramos o sombrio e o luminoso, o alegre e o doloroso, o desfalecimento e a exaltação. Criação e destruição. Acreditávamos numa inocência, sem considerar o mal e o sofrimento possíveis. Éramos assim, eram assim as coisas entre nós. Alternância de êxtases e lucidez. E que terminou... não vale a pena lembrar de tudo.

Objetivamente: num dos momentos de maior coragem, que eu jamais supus possuir, ele se acovardou. Simples. Era direito dele. Hoje eu sei e entendo. Era o ponto de inflexão da nossa tragédia. Daí por diante, todos os sonhos, os nossos, aqueles sussurrados, sôfregos, abertos, aqueles em que mergulhávamos em nossas profundezas, todos viraram fumaça! Pó.

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10 anos

No fundo do café, quase não o reconheço. Está mais magro, os cabelos começam a ficar grisalhos. Os olhos... aqueles que (ainda hoje não sei), me tornaram refém desde o primeiro instante em que os fitei... os olhos dele estão, apagados, sem brilho. Ou seriam os meus, que não brilham mais ao ver os seus?

Antes de me sentar à mesa, diante dele, pensei em várias coisas, nas várias reações que eu poderia ter. Ou naquelas que eu precisaria ter. Como sempre, de nada valeram meus pensamentos. Tudo acabou sendo no fluir natural das sensações e do instinto. O que eu senti? Raiva? Pena? Saudade? Vontade? Nada! Pó.

Foi a última vez que o vi. Pelo menos tão perto que, se eu quisesse, poderia tocá-lo.

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2 anos

- Lu... tudo bem? Pode falar um pouquinho?
- Tudo. E você?
- Desculpe... eu só queria ouvir a sua voz...
- E aí, como estão as coisas?
- Eu parei aqui no ponto. O movimento tá meio fraco essa hora. Acho que não te contei... to trabalhando com taxi agora...

(Eu devo ter ficado alguns segundos... longos segundos... pensando: é, o destino não está sendo muito bom com nenhum de nós!)

- E você? Tá trabalhando?
- Por enquanto, só com algumas aulas. Complicado, né!
- Você mora no mesmo lugar?
- Não

(Pensando bem, até que o destino foi menos mau comigo...)

- E as suas meninas?
- Ah, já casaram! Sem netos, por enquanto...
- E a...
- Quase nunca nos vemos. Só quando calha, na casa de uma das meninas. E você?
- Tudo bem. Continuamos muito amigos. É muito forte a nossa ligação. Se não acabou naquela época... acho que vai até o fim, agora.
- Bom...

(Silêncio. Por dentro, não tem como, algo se remexe em mim. Dizem que certos vírus, mesmo depois de debelados, não se sabe bem se pelos anticorpos, ou se pela marca sorológica, ainda podem, depois de muito tempo, manifestar algum sintoma. Será? Não creio. Não quero crer.)

- O meu número ainda é o mesmo... pensei... quem sabe alguma hora podíamos tomar um café...
- Pode ser. Qualquer dia marcamos.
- Bem, era isso. Só queria te ouvir. Tem horas que... é tão difícil... você tá bem?
- Sim, tranquilo!
- Tá bom então. Posso esperar uma ligação sua?
- Quem sabe... boa sorte aí!

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“O amor nunca morre de morte natural. Ele morre porque nós não sabemos como renovar a sua fonte. Morre de cegueira e dos erros e das traições. Morre de doença e das feridas; morre de exaustão, das devastações...”   

(Anaïs Nin)




terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Five Dances



É um filme absolutamente simples, cujas cenas (as mais marcantes) se passam dentro de uma academia de dança em New York. Os cinco personagens (2 rapazes, 2 garotas e o diretor/coreógrafo) são dançarinos, que chegam cedo e saem bem tarde, pois estão preparando um programa de 5 peças musicais para uma apresentação futura. Penso que a intenção do diretor (por sinal, muito bom!), Alan Brown, é discutir, nesta única locação (óbvio que também deve haver restrição orçamentária, né), sobre pequenos dramas humanos: amores (homo e heterossexuais), amizade, relações familiares conflituosas, e por aí vai...

E temos o núcleo central do filme: Chip (Ryan Steele), 17 anos, vindo do interior, infantil por vezes, ingênuo, nenhuma experiência amorosa, aparentemente frágil e Theo (Reed Luplau), um pouco mais velho, mais “vivido” (se é que me entendem... rs) e que, a princípio, resolve “atacar”, um pouco intempestivamente, o manjar de coco, quer dizer, Chip (rs). Pode haver enredo mais simples? E, no entanto, a beleza do filme está justamente na calma em que se desenvolve essa estória de amor entre os 2 personagens. Ao invés de explorar a premissa amorosa rapidamente (como se faz  na maioria dos filmes gay), em Five Dances o que vemos é uma comovente descrição da personalidade dos protagonistas e de seu envolvimento. Adorei!

A trilha sonora é um caso à parte... pra desmanchar os corações mais empedernidos! (rs) Juntar Gem Club e Scott Matthews, numa tacada só, é covardia, ao menos pra mim que amo de paixão as suas músicas! Não poderia haver trilha mais adequada para as 5 danças que se ensaiam ao longo do filme. Só por isso, já valeria. Mas, ver um amor sendo construído no lento ritmo das singelezas, é bom demais também!

Pra dar uma ideia da vibe que rola no filme, editei esse vídeo... com algumas mudancinhas! (rs) Na sequência das cenas e na música tema do pas de deux dos lindinhos. Achei que 252, do Gem Club, era o que a cena pedia. Gostei do resultado!


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Quando o Filhote Tem Pedigree



What a Terrible World, What a Beautiful World é o ultimo álbum do The Decemberists, banda indie/folk do Oregon (USA), liderada pelo cantor, músico e compositor Colin Meloy. Ao que consta, esse álbum será lançado em janeiro de 2015. Er... já acabou 2014? (rs)

Eu diria que não é um daqueles trabalhos exuberantes, marca registrada da banda. Talvez fosse melhor dizer que algumas músicas são maravilhosas, enquanto outras apenas boas. As letras de Meloy continuam lindas, sofisticadas, vocabulário difícil (ao menos pra mim) e a instrumentação, como sempre, muito bem cuidada. O diferencial em relação ao álbum anterior (The King is Dead, de 2011) é que eles estão menos folk e mais pop, mais, ou menos isso... (rs)

Ah, o título do post: pra quem acha que Nick Mulvey é filhote de Nick Drake (será pelo fato de ser Nick?), vamos exemplificar com essa música lindíssima, Lake Song. Especial atenção ao “diálogo” entre piano e violão e à divisão melódica, marcas legítimas da descendência “drakiana”, ostentadas por Nick... ops, Colin... (kkkkk)