terça-feira, 10 de março de 2015

A Desculpa É Um Ato Individual Da Razão

Comecemos pela famigerada “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”, a meu ver, a maior balela da história universal das balelas! Que, não contente em responsabilizar a pessoa errada, ainda quer garantir o status de eternidade a um conceito que só poderia ter sido produzido pelo lado fraco da equação. Vejamos: existe o sujeito A, que podemos chamar de “cativador”, e o sujeito B, o “cativado”. Ao que eu saiba, não existe “cativamento” (rs) compulsório. Logo, o ato de ser cativado é um exercício da vontade de um indivíduo - o que “se deixa” cativar; ato este que pode se fundamentar na realidade, ou nas expectativas. Via de regra a realidade costuma ser supervalorizada pelas expectativas. Não tem aquela piada do sujeito que ganha um arreio de presente e fica ansioso à espera do cavalo? Tá certo, na piada o presente é uma lata de estrume... nesse caso nem se trata de expectativa, mas de idiotia pura, o que não é tema de discussão por aqui (rs).

Voltemos à questão: se o cativar é um ato de vontade, a quem cabe a responsabilidade por esse ato? Óbvio que ao “eu” da equação, o cativado! Não há coisa alguma a se imputar ao “outro”, o cativador, que não pode ser responsável pelas expectativas de ninguém, fora as dele mesmo. Indo um pouco além, podemos substituir a palavra “responsabilidade”, por outra que, aliás, costuma aparecer mais frequentemente nesse contexto, qual seja, a palavra “culpa”. Se no tal processo de cativamento, algo deu errado (por exemplo, ao invés do cavalo como um próximo presente, a intenção de quem deu o arreio era montar no “presenteado”... rs), de quem seria a culpa? E nem estou falando em tese... falo de mim mesmo, que cansei de ser cativado e ganhar arreios e...

Meu mantra atual é: não espere dos outros nada além do mínimo que se pode supor que ele possa/consiga dar! Isso significa que minha vigilância deve ser direcionada precipuamente às minhas expectativas, no sentido de que elas estejam absolutamente próximas e coincidentes com a (dureza, na maioria das vezes) realidade. Sem perder de vista que o único responsável por tudo, em especial pelos erros de avaliação, sou sempre eu!

E chegamos ao título do post (ficou uma reflexão meio desordenada, né). Dizem que, quando ficamos velhos, nos tornamos cínicos (não no sentido pejorativo da palavra, mas no daquela antiga escola filosófica), ou espiritualistas! Pois é, acho que o meu caso é mais de cinismo mesmo! Os meus amiguinhos cínicos sempre diziam que, quando pedimos desculpas a alguém, queremos de fato corresponsabilizar esse alguém por uma culpa que é apenas nossa. Se pedimos desculpas é porque reconhecemos, intimamente, que erramos. E esse erro se deu num exercício da nossa vontade, sendo, pois, de nossa inteira responsabilidade. O que implica em que só nós temos a capacidade de nos desculpar, quer seja mudando nossas atitudes e comportamentos, quer seja, por um processo puramente racional, tratando de esquecer. E procurando, ao máximo, nunca cair na armadilha do ressentimento. Desculpar não é signo de espiritualidade... é um ato da razão prática.




3 comentários:

  1. Mais q perfeita esta sua contextualização ... lamento no entanto q a gente só chega a esta consciência plena com o avançaar da idade ... uma merda isto sem dúvida ... definitivamente sou um "cínico" ...

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  2. Brilhante e desafiador. Como de praxe. Definitivamente perderei umas noites de sono pensando nisso.

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  3. Linda reflexão sobre a diferença entre desculpa esfarrapada e desculpa genuína!
    Bjs

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