terça-feira, 30 de junho de 2015

O Encrenqueiro do Aquém-Túmulo

Palestra sobre o crescimento do espiritismo no mundo. Primeiro slide da apresentação: um gráfico, com uma curva ligeiramente ascendente. Com orgulho, o palestrante anuncia que (com muito esforço) compilou dados oficiais dos últimos 100 anos, que demonstram o lento, mas constante, crescimento do número de pessoas que se declaram espíritas no mundo.

No fundo da sala, inquieto (e pentelho, rs) como sempre, alguém pede a palavra. “Por acaso você já tentou colocar os dados em números relativos? Dados em valores absolutos pouco informam, na verdade... “

Silêncio geral. O coordenador das palestras, que conhece a sobejo o dito sujeito, também se inquieta. Como assim?, pergunta o palestrante. “Simples: basta dividir o total do número dos que se declararam espíritas, pelo total da população mundial, ano a ano... se você quiser, me passa os dados, que eu me comprometo a revisar o gráfico, para melhorar as futuras apresentações...”

Bem provável que, ou ele não entendeu... ou revisou ele mesmo o gráfico e não gostou do resultado... ou ainda, vendo o resultado, resolveu cancelar esse tema do calendário das próximas palestras. Jamais saberemos!

Gente chaaaata, que gosta de questionar! (rs)


domingo, 28 de junho de 2015

Eu Vivo À Vista

"Vivemos a crédito: nenhuma geração passada foi tão endividada quanto a nossa - individual e coletivamente (a tarefa dos orçamentos públicos era o equilíbrio entre receita e despesa; hoje em dia, os "bons orçamentos" são os que mantêm o excesso de despesas em relação a receitas no nível anterior).

Viver a crédito tem seus prazeres utilitários: por que retardar a satisfação? Por que esperar se você pode saborear as alegrias futuras aqui e agora? Reconhecidamente, o futuro está fora do nosso controle. Mas o cartão de crédito, magicamente, traz esse futuro irritantemente evasivo direto para você, que pode consumir o futuro, por assim dizer, por antecipação - enquanto ainda resta algo para ser consumido...

Parece ser essa a atração latente da vida a crédito, cujo benefício manifesto, a se acreditar nos comerciais, é puramente utilitário: proporcionar prazer. Os meios são as mensagens. Cartões de crédito também são mensagens. Se as cadernetas de poupança implicam a certeza do futuro, um futuro incerto exige cartões de crédito."

(Zygmunt Bauman “Medo Líquido”)


sexta-feira, 26 de junho de 2015

Nerd? Geek? Dork?

“Os nerds, ou geeks, tinham o costume de se esconderem por causa da conotação negativa dessas denominações. Atualmente, eles já não são vistos como integrantes do “lado babaca da força”, passando a assumir e orgulhar-se de seus hobbies. Antônio Felipe Cechi Neto, gerente de projetos em Tecnologia da Informação, considera-se um nerd, embora ache que a popularização do termo distorce a definição tradicional, com que mais se identifica... Entende-se que a palavra em questão teve seu primeiro registro como sinônimo de imbecil. Hoje em dia, usa-se para definir pessoas que são obcecadas por tecnologias como games, computadores e dispositivos eletrônicos portáteis”.

(Revista “Toque da Ciência”)

Do fundo do baú, musiquinha pra relaxar... rs


terça-feira, 23 de junho de 2015

Falsa Genialidade



Numa daquelas conversas (chatas paracaráleo! rs) em família, meu cunhadinho me vem com essa: “as crianças de hoje são mais inteligentes, mais geniais, do que as de antigamente... minha netinha, de 5 anos, já sabe mexer no tablet!” Ao que respondi: pois é, a mesma genialidade daquelas sondas-robô que descem em Marte e em pouco tempo já começam a “analisar” o solo, o clima... (rs). Acho que ele não entendeu!

Ao que consta, celulares, tablets, laptops, etc. são fabricados não para serem utilizados por uma elite intelectual, mas por todo mundo, desde as mentes mais esclarecidas e sutis do planeta até as camadas semianalfabetas da população. Além do que, dado o apelo lúdico das teclinhas, ícones, cores, não me espanta que chame a atenção das crianças. A sensação de inteligência triunfante advinda da destreza com que se “mexe” nessas engenhocas segue apenas a lógica (deveras previsível) de se trilhar caminhos pré-estabelecidos, sem a mínima exigência de algum senso crítico. Exatamente como faz o robô, que desce em Marte,  percorrendo sua superfície e fazendo suas “descobertas” sem que um astronauta tenha que atravessar os riscos da aventura pelo território do imprevisível e desconhecido.

Ele nada mais faz do que seguir comandos, previstos num “manual de instruções”, guiado por ícones, que aparecem e desaparecem, na função de parâmetros e que o colocam no caminho certo. Não é exatamente o mesmo que fazemos ao “explorar” nossas engenhocas diletas? Na verdade o que fazemos é substituir a lógica do saber e conhecer por outra, executada pelo artefato, mas que nos passa a ilusão de que somos nós os “construtores geniais” dessa lógica!

Temo que essa ilusão da inteligência progressiva e sem limites (há quem diga que vivemos o tempo da transformação do Homo sapiens em Homo web), seja, efetivamente, a causa principal da produção (esta sim crescente) de novos seres cada vez menos capazes de pensar e criticar por sua conta e risco!

Estou falando muita besteira?

PS: Gênio fui eu que, aos 17 anos, terminando a disciplina de Introdução à Filosofia Moderna I, no 1º ano da FFLCH-USP, apresentei um trabalho sobre os conceitos de Tempo e Espaço em Kant e que, anos mais tarde, se transformaria no tema da minha tese de mestrado! Isso que é ser modesto, né! (rs)




segunda-feira, 22 de junho de 2015

Well Strung



Eles formam um quarteto de cordas, à primeira vista com jeitão de boy band. Apesar da carreira ainda bem no início (seu 1º show profissional aconteceu em 2012) podemos dizer que eles já alcançaram um relativo sucesso. Sua fórmula musical nem é muito novidade: a mistura de música erudita e pop. Daí poderíamos perguntar: o que chama tanto assim a atenção das pessoas sobre eles? Pra responder, basta dar uma olhada no vídeo abaixo, onde eles interpretam Kelly Clarkson ao som de Mozart  (rs).

Ah, ia esquecendo... eles são gays assumidos. Delícia!


sábado, 20 de junho de 2015

Lado B

Foi há muito tempo. Eu meio que era uma espécie de ídolo dele. Quando estávamos sozinhos na casa da minha avó (meus tios moravam com ela) eu agia como amigo dele. E me “aproveitava” da situação de ter essa ascendência sobre ele. Ele era gay. Delicado (não gosto da palavra afeminado!). E daí? A “questão” era que, se estávamos com mais pessoas, eu de certa forma me aliava com aqueles que gostavam de fazer piadinhas, zombarias com ele. Bacana isso, né...

Pra completar a canalhice, sempre foi muito nítido pra mim que ele pouco se importava com o que os outros faziam, ou diziam... o que mais doía era o que eu fazia! Eu sabia, eu percebia, até admito que houvesse uma espécie de arrependimento a posteriori, de minha parte. Mas, jamais cheguei a admitir isso pra ele. Quantas vezes, daquele jeito simples dele, eu fui perdoado?

Hoje encontrei uma foto, toda a galera e ele bem do meu lado. Se não me engano foi alguns meses antes dele morrer.


domingo, 14 de junho de 2015

Tom Rosenthal



De tudo o que eu já ouvi (e não é pouca coisa, rs), se me perguntassem qual o cantor/banda que melhor representa o conceito “indie”, acho que não teria muita dúvida em apontar esse compositor, cantor e multi-instrumentalista inglês, Tom Rosenthal. Ele navega pelo folk, pelo rock, pelo experimentalismo, pelo pop (há quem diga que ele faz o gênero câmara/pop, rs), e que, certamente, jamais pertencerá ao “mainstream”! Sua música é uma grande mistura de tudo, essa a verdade, além de suas letras passearem, tranquilas, entre o lirismo, o sarcasmo e o humor irônico. Dá pra imaginar uma melancia ambulante tiritando pelos prados, no enlevo de uma sonoridade quase barroca? Ao mesmo tempo em que podemos ter apenas voz e piano? Essa é a vibe.

Uma coisa interessante (ao menos pra mim) é que ele adora aliar experimentos visuais, através de vídeos, à apresentação de suas canções. Seu canal no YT tem vídeos, alguns dirigidos por ele mesmo, que são lindíssimos! Outra característica é a duração das canções, que raramente vão além de 3 minutos! Desnecessário dizer que, a cada novo álbum (Bolu, lançado agora, é o seu 4º) a única certeza é que será totalmente diferente dos anteriores. Fora tudo isso, ele adora brincar com o timbre de sua voz, algumas vezes apenas acompanhada de piano, outras com todo um instrumental típico da música folk. Resumo: é bem difícil descrever seu estilo musical através de palavras.

Alguém se arrisca? (rs)






domingo, 7 de junho de 2015

Zelota



“Não pense que eu vim trazer paz sobre a terra. Eu não vim trazer paz, mas a espada.”
(Mateus 10:34)

Eu ensaiava ler esse livro do historiador de descendência iraniana, radicado nos USA, Reza Aslan (lançado em 2013), há um bom tempo. Como costumo fazer com toda obra geradora de polêmicas, antes de ler o próprio livro cuidei de ler as muitas críticas e comentários, tanto as favoráveis, quanto as negativas. É um bom exercício, ao menos pra mim, pois ao ler a obra me sinto mais confortável (e abastecido) para melhor observar todos os pontos discutidos. Ontem, finalmente, me dispus a ler... há muito tempo que não “devoro” um livro de uma tacada só! Simplesmente não deu pra parar, antes de chegar ao final!

O tema central de sua pesquisa (foram anos de muito estudo comparativo de textos antigos, que abordassem todo o contexto histórico da época) nem é muito novo. Desde o século XIX muitos historiadores se debruçam à procura do Jesus histórico, o Nazareno e não o Cristo. Nas palavras de Aslan: “Este livro é uma tentativa de recuperar, tanto quanto possível, o Jesus da história, o Jesus antes do cristianismo (grifo meu): o revolucionário judeu politicamente consciente que, há 2 mil anos, atravessou o campo galileu reunindo seguidores para um movimento messiânico com o objetivo de estabelecer o Reino de Deus, mas cuja missão fracassou quando – depois de uma entrada provocadora em Jerusalém e um audacioso ataque ao Templo – ele foi preso e executado por Roma pelo crime de sedição. É também sobre como, após Jesus ter fracassado em estabelecer o Reino de Deus na terra, seus seguidores reinterpretaram não só a missão e a identidade de Jesus, mas também a própria natureza e definição do messias judeu.”

Óbvio que o livro não pretende conter “a verdade”, mesmo porque em ciência a verdade é sempre contingencial. Como historiador que faz ciência Aslan procurar “separar”, nas narrativas encontradas, o que é improvável (dado o nível de conhecimento atual) do que é impossível. E são muitos os casos de impossibilidades! Um bom exemplo é todo o processo de julgamento e condenação de Jesus. Ou mesmo o “massacre dos inocentes”, ao tempo do nascimento de Jesus, no reinado de Herodes, fato que simplesmente não tem o menor registro em toda a vasta documentação pesquisada.

Além disso, num trabalho minucioso de reconstituição de época, encontramos em seu livro uma descrição meticulosa da história e da geografia, o que ajuda em muito a reconstituir todo o universo em torno do Jesus histórico, um homem que desafiou a autoridade de Roma e a alta hierarquia religiosa judaica; um homem pleno de convicções, paixões e contradições, um revolucionário vindo das classes menos favorecidos. E de tentar entender as razões pela qual a Igreja Católica (a primeira organização do cristianismo em formato eclesiástico) optou por promover a imagem de Jesus como um mestre espiritual pacífico em detrimento do revolucionário.

Para quem se interessa por história, é um deleite.