domingo, 20 de setembro de 2015

Tò Sumpósion #1



Sobre o amor, como Aristófanes expos, na casa de Agatão e na presença, entre outros, de Sócrates, Aristodemo, Fedro, Pausânias, Erixímaco e Alcibíades:

Houve um tempo em que os seres humanos eram de três tipos: homem, mulher e andrógino, vivendo em “estado duplo” (homem/homem, mulher/mulher e homem/mulher), unidos pelo abdome. Por se sentirem tão autossuficientes e cheios de si nessa completude e felicidade absoluta (o que ameaçava o “ser” da divindade), foram divididos ao meio por Zeus. Desde então, cada metade ficou condenada à falta, à incompletude e à tarefa do reencontro da parte perdida, da parte que completasse o seu ser originário. E, Aristófanes nos fala: o amor é justamente essa busca constante e incansável! Entretanto, enquanto busca (e não garantia de encontro), o que importa é a possibilidade de se pensar que um ser apenas pode existir em relação a um outro com o qual se possa estabelecer um laço, um vínculo, uma cumplicidade. A outra metade que, na sua presença e na sua ausência, consegue declarar aquilo que somos, enquanto miticamente divididos e errantes.

Em sendo assim, o amor não é um fenômeno, mas sim um anseio, uma busca do homem por uma totalidade do ser, outrora possível e, agora, momentaneamente inacessível...

“Quando acontece encontrar alguém a sua metade verdadeira, de um ou de outro sexo, ficam ambos tomados de um sentimento maravilhoso de confiança, intimidade e amor, sem que se decidam a separar-se, por assim dizer, um só momento. Essas pessoas, que passam juntas a vida, são, precisamente, as que não sabem dizer o que uma espera da outra. [...] E a razão disso é que primitivamente eram homogêneos. A saudade desse todo e o empenho de restabelecê-lo é o que denominamos amor...”

Não se fala apenas da união física que faz com que um sinta um prazer tão grande com a presença do outro e a ela aspire com tanta força, mas é, indubitavelmente, uma coisa diferente o que a alma de ambos quer... uma coisa que ela não pode exprimir e que só palpita nela como obscura intuição do que é a solução do enigma da sua vida.

“Falo tanto do homem como da mulher, para afirmar que nossa espécie só poderá ser feliz quando realizarmos plenamente a finalidade do amor e cada um de nós encontrar o seu verdadeiro amado, retornando, assim, à sua primeira natureza.”

(Deveras interessante... apesar de que existem outros pontos de vista...)


4 comentários:

  1. Existem dois pontos de vista: o que acredita que o Amor é uma necessidade ( fisica, mental, emocional ) e com qual me identifico profundamente. E existe o ponto de vista que acredita que o Amor é uma ilusão ( criada pela incapacidade do ser humano em se auto sustentar ) e que nasceu de quem por azar deixou de acreditar no primeiro ponto de vista. Infelizmente o segundo ponto de vista gerou esse individualismo doentio dos dias modernos!
    Bjs

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Hum... acho que é um bocadinho mais complicado! (rs) Mais provável que exista uma gama de pontos de vista, dispostos numa graduação, como em um leque. Em uma ponta, a visão materialista pura, segundo a qual nada há além do cérebro e suas ligações químicas e elétricas tornadas ficção por uma “mente” que precisa ser “alguém” e ter uma história. Na outra, talvez algo como essa visão de Aristófanes/Platão, apenas possível nesse mundo ideal e perfeito a que nós, sombras saudosas (embora reais!), aspiramos como destino final. Entre uma e outra deve haver trocentas variações...

      Excluir
    2. Concordo, mas a etiologia dessa miríade ( hoje estou atacado) de opiniões e pontos de vista nascem de uma dessas polaridades!

      Excluir
  2. Gostei de sua perspectiva na resposta acima ... sigo por aí tb ...

    ResponderExcluir